22 de agosto de 2008

21 de agosto de 2008

Lucia Bakairi


Eu me apresento como mãe do Edson porque salvei e cuidei dele. Não sei falar bem, não estudei porque tinha que ir para a roça. Mas eu vim porque, como o meu irmão que ia ser morto, outras crianças podem ser salvas. Infanticídio é muito triste, as mulheres sofrem e as que têm filho deficiente como eu? Mas eu não matei, estou cuidando deles. Precisamos cobrar das autoridades. Isso não é vida para as mulheres. Isso precisa ter um fim. Tudo tem um motivo. As mulheres precisam de apoio.

Edson Bakairi



Sou um sobrevivente! E sei a importância de um posicionamento firme quanto a questão do infanticídio. É importante que os indígenas defendam suas crianças. Há lideranças manipuladas pelos antropólogos que acham que os costumes são intocados. Temos que exercer a capacidade de mudar e combater o que é prejudicial. É difícil ouvir a minha história.

Karatsipa Kamayura



É importante falar sobre infanticídio, podemos mudar a história daqui pra frente. Podemos melhorar.

Kakatsa Kamayura



Essa causa é muito importante para nós. É uma prática prejudicial. Eu não aceito o infanticídio. Toda cultura é dinâmica e deve mudar.

Davi Terena

Vamos sempre dizer sim a tudo o que dizem sobre cultura? Temos o direito, mas aceitamos a imposição de que somos incapazes. A diversidade étnica não nos impede de conhecer nossos direitos e exercê-los. Independente do que o branco ache, o índio tem valor e é relevante para o país. Mas tem servido para muitos antropólogos como objeto de estudo. A FUNAI sempre chama os índios para aparecer nas fotos, nunca para ouvi-los. Nossa maior preocupação é educação. Através da educação há futuro.

Carlos Terena

Sou contra o infanticídio. Mas é preciso meios práticos para se chegar aos objetivos. As famílias sofrem todo tipo de discriminação, especialmente a mãe. É preciso buscar alternativa, dar opções, buscar meios de ter auto-estima no sentido coletivo, meios de sobrevivência, a partir daí a cidadania. Precisamos ter calma. A prática do direito leva tempo e é preciso exercer.

Eli Ticuna

Unir forças dos jovens e dos experientes numa junção de idéias na busca dos direitos fundamentais. Defender a vida das crianças que são vítimas. Nossa função é ajudar aqueles que querem salvar seus filhos. Isso é um direito fundamental.
O objetivo do PL não é penalizar. Tudo o que o ser humano constrói faz parte da cultura. Há práticas culturais boas e há práticas nocivas como o infanticídio. Vamos discutir e repensar.

Jorge Ticuna

Essa reunião é importante para mim e para todos nós. Para aqueles que também ainda não nasceram. Temos oportunidade de construir coisas boas para todos nós.Deixar o que prejudica e construir e melhorar nosso mundo para aqueles que ainda virão. Podemos construir a Lei.

Adão Kaiwa



Tem sempre as falas decoradas da FUNAI, eles sempre querem fazer alguma coisa mas não tem condições.

Álvaro Tucano

Esse encontro é muito forte e a gente dá mais um passo. Estou aqui para contribuir e defender a vida dos seres humanos e combater o que violenta os seres humanos. Temos que cuidar para não nos tornarmos organizações indígenas tão institucionalizadas que defendam interesses que não tem nada a ver com os indígenas. Sugiro uma reunião dentro do Congresso Nacional, uma manifestação na Semana da Criança. INFANTICÍDIO É ASSUNTO DE ÍNDIO! Teve muita omissão, muita gente se calou. É importante retomar essa discussão e fazer movimento nos partidos. Manter contato com as aldeias apresentando nossa preocupação, e valorizar o PL 1057. Só os sábios vêem esse trabalho. Nós somos sábios.

Mesa de discussão

20 de agosto de 2008

Carta aberta de Edson Bakairi

Carta Aberta do Movimento Indígena contra o infanticídio

Ao Excelentíssimo Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à Primeira Dama D. Marisa e à Nação Brasileira.

Nós, indígenas do Mato Grosso e do Brasil, pedimos a sua atenção para os casos de infanticídio, que ocorrem impunemente nas aldeias indígenas do Brasil.

O infanticídio, não é um fato novo, infelizmente sempre esteve presente na história das culturas indígenas. Entretanto, tem ganhado a visibilidade na mídia com a divulgação da história da menina Hakani, da etnia Suruwahá, a qual sobreviveu ao infanticídio após o suicídio de seus pais e irmãos. Estamos vivendo um momento de profunda mudança em nossa cultura e estilo de viver, por que vivemos hoje um novo tempo. A realidade dentro das comunidades indígenas é outra. Já não vivemos confinados em nossas aldeias, condenados ao esquecimento e à ignorância. O mundo está dentro das aldeias, através dos meios de comunicação, internet e da escola, o acesso à informação têm colocado o indígena em sintonia com os acontecimentos globais.
Tudo isso tem alterado nossa visão de mundo. Hoje já não somos meros objetos de estudos, mas sujeitos, protagonistas de nossa própria história, adquirindo novos saberes e conhecimentos que valorizam a vida e a nossa cultura.

Somos índios, somos cidadãos brasileiros! Vivendo na cidade ou na aldeia, não abandonamos as riquezas de nossas culturas, mas julgamos que somos plenamente capazes de distinguir entre o que é bom e o que é danoso à vida e a cultura indígena. Desde já, assumimos as responsabilidades de nosso destino e de fazer escolhas que contribuam para o nosso crescimento. Nos recusamos ativamente a ser meros fantoches nas mãos de organizações científicas e de estudos. Chega de sermos manipulados pelas Organizações Governamentais e não-Governamentais!

Portanto manifestamos nosso repúdio à prática do infanticídio e a maneira irresponsável e desumana com que essa questão vem sendo tratada pelos Órgãos Governamentais. Não aceitamos os argumentos antropológicos baseados no relativismo cultural. De acordo com a nossa própria Constituição Brasileira de 1988, que em seu artigo 227, determina:

"É dever da família, da sociedade e do Estado, assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão."

É em nome deste preceito constitucional que nos dirigimos suplicando à nação brasileira, em especial ao Excelentíssimo Senhor Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva e à Primeira Dama D. Marisa assim como aos Congressistas e Governantes Estaduais e Municipais manifestando a nossa indignação com a falta de respeito à vida, em especial as vidas das crianças vítimas do infanticídio.

O recente caso da menina Isabela (Nardoni ) alcançou tal repercussão na mídia, que de imediato nós vivenciamos a dor e a angústia de sua família: parecia que Isabela era alguém da nossa própria família. Toda a nação brasileira se comoveu e se encheu de indignação com tamanha violência, acompanhando e exigindo justiça a partir de então. Quanto à punição dos suspeitos, a Justiça tem feito seu papel, e a sociedade está em alerta contra a violência infantil. Mas nós perguntamos será que a vida da Isabela tem mais valor do que aquelas crianças indígenas que são cruelmente enterradas vivas, abandonadas na mata, enforcadas por causa de falsos temores e falta de informações dos pais e da comunidade? NÃO!

Não aceitamos o infanticídio como prática cultural justificável, não concordamos com a opinião equivocada de antropólogos que têm a pretensão de justificar estes atos e assim decidir pelos povos indígenas colocando em risco o futuro de etnias inteiras. O direito a vida é um direito fundamental de qualquer ser humano na face da terra, independentemente de sua etnia ou cultura.

Ao Excelentíssimo Senhor Presidente, a Primeira Dama D. Marisa, Senhores Congressistas, Governantes Estaduais e Municipais e a cada cidadão brasileiro: os direitos humanos estão sendo violados no Brasil!! Milhares de crianças já foram enterradas, enforcadas ou afogadas e quantas mais deixaremos passar por tal crueldade?

Nosso movimento espera que a Lei Maior de nosso país seja respeitada, isto é, independentemente de etnia, cor, cultura e raça, todas as crianças gozem do direito à vida.

Nesse sentido:
- Pedimos que a Lei Muwaji seja aprovada e regulamentada;
- Pedimos ao Excelentíssimo Senhor Presidente Luís Inácio Lula da Silva e a sua esposa que pessoalmente interfiram nesse processo;
- Pedimos que os Órgãos competentes não mais se omitam em prestar socorro às mães e as crianças em risco de sofrer infanticídio.
Nós, abaixo assinados, concordamos com os termos da carta aberta e juntos com os seus autores, pedimos aos governantes do País em todas as instâncias, providências ao combate e a erradicação do infanticídio, para que assim o sangue inocente não seja mais derramado em solo indígena, em solo brasileiro.

Mato Grosso, Junho de 2008
Movimento contra o infanticídio indígena.
Contato: edsonbakairi@hotmail.com.

Edson Bakairi é líder indígena em Mato grosso, professor licenciado em História com especialização em Antropologia pela UNEMAT, presidente da OPRIMT (Organização dos professores Indígenas de MT) por 3 anos e é sobrevivente de tentativa de infanticídio - abandonado para morrer na mata, foi resgatado e preservado com vida por suas irmãs.

15 de agosto de 2008

Programação do Seminário

Programação
Exibição do documentário Hakani
Depoimento de sobreviventes
Debates
  • Projeto de Lei 1058 "Lei Muwaji"
  • Estratégias para erradicação do infanticídio
  • Envolvimento dos povos indígenas nas lutas pelos direitos fundamentais

Preletores/facilitadores
Eli Ticuna
Edson Bakairi

Primeiro Seminário do Movimento Indígena contra o Infanticídio
16 e 17 de Agosto de 2008, a partir das 9h.
SCRN 714/715 Bloco F Loja 18 Brasília - DF

Informações: [61] 3272 3035

13 de agosto de 2008

Primeiro Seminário do Movimento Indígena contra o Infanticício

Acontece, nos dias 16 e 17 de agosto de 2008, o Primeiro Seminário do Movimento Indígena contra o Infanticídio, em Brasília – DF.

Liderado por Edson Bakairi, o Seminário discute a questão do infanticídio e o protagonismo dos movimentos indígenas na defesa de seus direitos fundamentais, com destaque para o PL 1057, internacionalmente conhecido como Lei Muwaji. Dirigido a líderes e transformadores sociais indígenas, o evento é aberto a todos os interessados em direitos humanos, direitos das crianças, movimentos sociais e povos indígenas.

Primeiro Seminário do Movimento Indígena contra o Infanticídio
16 e 17 de Agosto de 2008, a partir das 9h.
SCRN 714/715 Bloco F Loja 18 Brasília - DF

Informações: [61] 3272 3035
Realização: Movimento Indígena contra o Infanticídio
Apoio: ATINI - VOZ PELA VIDA